Elon Musk não é seu amigo. Ele é nazista, mas falarei disso mais abaixo. O que ele não é, contudo, seu amigo. Nenhum bilionário é seu amigo. Nada que um bilionário goste ou defenda é bom para você. Mesmo que um bilionário te diga para tomar pelo menos dois litros de água por dia, comer de forma saudável e fazer exercício, que te fale que é importante gastar menos do que ganha, que é fundamental cuidar da sua saúde física e mental, não é por amizade que ele faz e, com certeza, os interesses por trás impedem que isso seja bom para você. O sapo não pula por boniteza, mas por precisão.
No entanto, de todos os bilionários que existem no mundo - não são muitos, mas nenhum é seu amigo - talvez aquele que menos seja seu amigo é o Elon Musk. Eu diria até que ele é quase um antípoda da amizade. Talvez me falte a palavra para melhor descrevê-lo, mas deve ser algo oposto a companheiro. Um negativo da palavra aliado. Mesmo que alguém que você goste passe o dia como um defensor pro-bono do Elon, o homem continua não sendo seu amigo. Mesmo que você admire o seu engenho e alguma das muitas coisas que algumas das muitas empresas que ganham muito dinheiro para ele façam, o seu bem-estar não está entre as preocupações dele. Até porque ele é nazista, e os fãs do bigodinho não são conhecidos por empatia ou humanidade.
Musk é bom de auto-promoção. De amizade ele é ruim, mas o cara sabe se vender. Como um flautista de Hamelin que atrai idiotas ao invés de ratos - ou ratos idiotas, ou ratazanas peludas e fedorentas que comem ratos idiotas no almoço e na janta - Musk faz um cosplay bem-feito de gênio. Seria o caso se QI fosse medido por posse de minas de esmeraldas de sangue. Todas as ideias mirabolantes saíram de gente muito inteligente que foi contratada ou atropelada pela fortuna do magnata. Mas ele sabe vender.
Houve um tempo que ele parecia ser seu amigo. Não um daqueles confrades que faz churrasco na sua casa, te dá carona quando você exagera, joga bola na rua ou te doa um rim compatível, nada disso. Mas ele conseguia dar a impressão de que aquela fortuna tinha o bem comum como destino. Que mesmo que algumas propostas fossem apenas caprichos megalômanos, o retorno líquido para a sociedade seria positivo. Que ele se importava com o futuro da humanidade, com o clima, com tecnologias que fariam o ser humano evoluir e viver melhor. Enquanto seus bilhões se acumulavam com essa pantomima, ele podia posar como um iron man da vida real. Quando ficou mais lucrativo abraçar o supremacismo branco, ele fez a transição mais rápido do que um viciado em quetamina buscando uma dose nova quando o buzz do comprimido anterior passou.
Elon poderia inspirar empatia, como sentimos por nossos amigos e até por pessoas que não conhecemos em seu sofrimento ou dificuldade. Mas ele não é seu amigo, e escolheu ser o oposto disso. Mesmo assim, dá para sentir empatia. Um rapaz com inteligência acima da média, provavelmente no espectro autista, que sofreu bullying na escola e definitivamente não recebeu amor, carinho ou mesmo respeito de seu pai ocupado em lavar as mãos sujas do sangue das esmeraldas que saíam da sua mina na Zâmbia. Recebeu dinheiro, o nepobaby, mas os Beatles já diziam que dinheiro não pode comprar amor, e uma criança precisa muito mais de afeto paterno do que de milhões de dólares.
Merece empatia, mas toma gosto por escolhas que demonstram a ausência de empatia que sente pelo restante da humanidade. Como quando sai fertilizando mulheres brancas para realizar algum fetiche louco de procriação e garantir mais homens brancos e ricos de DNA supostamente puro no mundo, mas que na parte de cuidar dos filhos some mais rápido que um viciado em quetamina quando descobre que acabou seu estoque. Como quando renega a filha que nasceu filho e transicionou - isso é mais importante do que parece a primeira vista. Como quando tenta culpar seu apreço pela iconografia nazista no seu autismo, sendo que não há no espectro nenhuma característica que aproxime a pessoa do amor pelo bigodinho alemão. Merece empatia, mas gasta esse crédito muito rápido sendo uma pessoa desprezível. E bilionário, ainda por cima. Mais bilionário que todos os outros bilionários desprezíveis.
O problema do Elon Musk não é não ser seu amigo. A maioria das pessoas não será sua amiga, muitas delas até tentarão te fazer mal. Mas poucos conseguirão fazer tão mal a tantos ao mesmo tempo. E nenhum conseguirá acumular bilhões e usá-los como uma arma para fazer valer sua vontade e submeter toda a humanidade aos seus caprichos.
Elon Musk não é a doença dos nossos tempos, é só uma manifestação física de todos os sintomas dessa moléstia. É um coquetel explosivo de dinheiro, poder, vício, ódio e desprezo pela humanidade. É o tech bro que fala a parte silenciosa alto. Um homem que, por conta de traumas mal curados da infância, decide punir toda a humanidade com teorias conspiracionistas de extrema-direita e usa seu dinheiro para destruir a praça pública global e comprar o governo mais poderoso do mundo.
Enfim, mas tudo isso ainda poderia ser desculpado se Elon não fosse um nazista. Ele não é o único - numa demonstração de que os vencedores contam a história, mas se você alimenta os maus sentimentos de ressentidos, eles passam a se identificar com perdedores, mas apenas aqueles perdedores racistas. A direita mundial decidiu abraçar a suástica num caminho sem nem mesmo uma parada para reabastecimento num hard-right não fascista à Thatcher.
Musk não é nazista só porque fez em público duas vezes a saudação nazista. Nem só porque divulga uma teoria supremacista e antissemita como a grande substituição, na qual judeus estariam facilitando a entrada de estrangeiros mais escuros em nações majoritariamente brancas para acabar com a pele clara. Nem mesmo apenas por fazer discursos aos neonazistas alemães ressaltando que devem “perder o medo de ter orgulho de serem alemães”. Nem mesmo só por ter transformado a rede social que comprou em um espaço seguro para nazistas de todo tipo. É a soma de tudo isso, num processo de radicalização que não parece ter freio, muito menos regresso.
Cada vez menos ele é seu amigo. Não perca seu tempo defendendo-o nas redes, nem a nenhum outro bilionário - exceto se estiver sendo pago para isso. O mundo está caminhando para um terreno perigoso, e nenhum de nós estará a salvo. A única saída é jogar esses timoneiros ao mar. Musk e seus verdadeiros amigos.